"Eu sou porque nós somos"

As vereadoras Cida Falabella e Áurea Carolina, em conjunto com a equipe da gabinetona, enviam a O Beltrano uma nota sobre a trágica e criminosa morte da vereadora carioca Marielle Franco


Áurea Carolina, Cida Falabella e equipe Gabinetona

Fotos: Thais Alvarenga

Durante horas na noite de ontem, avançando pela madrugada, as palavras “não pode ser verdade” eram as únicas que nos vinham a cabeça e que saíam das nossas gargantas, secas, vacilantes. A brutalidade do assassinato da vereadora Marielle Franco e de Anderson Gomes, o motorista que a acompanhava, é tanta, que acreditar é tarefa difícil de cumprir.

Marielle passou a noite em uma roda de conversa na Casa das Pretas, no bairro da Lapa. O tema era “jovens negras movendo as estruturas” e ninguém melhor que ela para estar lá, uma mulher, jovem, negra, LGBT, mãe, filha da favela Maré, socióloga, defensora dos direitos humanos, quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro e lutadora incansável. Marielle, movendo as estruturas.

Segundo testemunhas, um carro emparelhou com o seu veículo e disparou. Nove tiros. A notícia foi se espalhando. Sentimos dor, indignação, perplexidade, medo e vontade de desistir (des-existir). Muito mais do que uma companheira de partido, Marielle era uma parceira de luta, uma amiga que encontramos desde o início dessa travessia e com quem compartilhamos o sonho de um país melhor. Hoje, esse sonho se despedaça um pouco, enquanto o corpo de mais uma mulher negra cai.

Estamos comovidas e desoladas, inconsoláveis. Por ela e por Anderson. Seguimos recolhendo cacos para pedir justiça e exigimos que as circunstâncias desse crime sejam rigorosamente investigadas. Por termos umas às outras e tantas pessoas que confiam em nós, por termos escolhido como compromisso o árduo caminho da resistência, seguiremos em luta. Toda a nossa solidariedade às famílias, amigas e amigos, e equipe. Hoje, Marielle, sua voz ecoa mais alto.

Marielle, PRESENTE!