Força do eleitorado feminino não é absorvida pelos candidatos
Fiscalização da propaganda gratuita feita pela Campanha Libertas revela que mulheres ainda seguem fora do radar político
Por Juliana Baeta – Para Campanha Libertas
Publicado em 17/09/2018
Se os acontecimentos recentes no Brasil mostram que a força e a união das mulheres devem ser decisivas para a definição de um novo presidente, as propagandas eleitorais e os planos dos candidatos ao mais alto cargo público do país demonstram que elas ainda seguem fora do radar eleitoreiro. Mesmo nas chapas que trazem mulheres como candidatas a vice, a imagem e fala delas na TV é nula, exceto, é claro, nas exibições das postulantes Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU).
Para se ter uma ideia, em cerca de uma semana, um dos grupos de “Mulheres contra Bolsonaro” no Facebook arregimentou mais de 2 milhões de eleitoras que declaram abertamente o não voto ao candidato, o que equivale a aproximadamente 1% da população brasileira O grupo e suas moderadoras foram hackeados na madrugada do último domingo (16) por seguidores do postulante Jair Bolsonaro (PSL), que tem atitudes misóginas registradas em vídeos e entrevistas.
A forma adotada pelo candidato no combate à opinião das mulheres, vista em muitos de seus debates e falas, se repete também nas redes sociais: o silenciamento. Isso é nítido também na sua propaganda eleitoral, onde, em seus 8 segundos de exibição, não há nenhuma menção às mulheres. Nas 81 páginas de seu plano de governo, a palavra “mulher” é mencionada apenas uma vez, como “outro exemplo ideológico de mudança, combater o estupro de mulheres e crianças”. Apesar disso, ele não traz nenhuma proposta direcionada a essa parcela da população que representa a maior parte dos eleitores do país.
Não apenas Bolsonaro, mas os demais que, inclusive, têm na sua chapa uma candidata a vice mulher, não exploram essa representatividade feminina na propaganda eleitoral. Dentre as 13 candidaturas ao pleito, apenas duas são mulheres, e dentre os 11 candidatos, cinco têm vices mulheres.
O candidato Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, que nos debates já realizados na TV aberta enalteceu a sua vice Ana Amélia (PP) como a representação da mulher em sua chapa, ignora a sua existência na propaganda eleitoral, mesmo tendo o maior tempo de exibição dentre todas as candidaturas. No caso mais extremo, como o do candidato João Amoêdo (Novo), ele não só exclui a figura da mulher na sua transmissão, como em seu próprio plano de governo. Entre suas 23 páginas de propostas, não há a menção à palavra mulher sequer uma vez.
A propaganda eleitoral exibida na última quinta-feira (13), no horário de 13h, e cronometrada pela Campanha Libertas, traz o mesmo padrão já contabilizado nos últimos monitoramentos. As candidatas mulheres não só figuram em menor quantidade, como têm menos tempo de fala na propaganda da TV,, mesmo proporcionalmente.
Ao cargo de presidente da República, foram exibidas 13 candidaturas, que somaram o tempo total de cerca de 12 minutos. A exibição dos programas de Vera Lúcia e Marina Silva – em função do tempo de seus partidos – corresponde a 5% do tempo total da propaganda dos candidatos à Presidência.
Já as candidaturas ao cargo de deputado federal, também exibidas na quinta-feira, contaram com 50 postulantes homens e 24 mulheres. Enquanto os candidatos falaram por cerca de 5 minutos, as candidatas tiveram em torno de 2 minutos e meio de fala.
Segundo decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os partidos ou coligações devem reservar 30% do tempo na propaganda eleitoral às candidaturas femininas de suas legendas ou grupos políticos ao longo de todos os 35 dias de exibição.
Veja como foi o monitoramento da última quinta-feira:
Ao cargo de presidente da República:
Fernando Haddad (PT): 2’22”João Amoêdo (Novo): 5”Álvaro Dias (Podemos): 39”Jair Bolsonaro (PSL): 8”João Goulart Filho (PPL): 5”Marina Silva (Rede): 21”Cabo Daciolo (Patriota): 8”Eymael (DC): 8”Henrique Meirelles (MDB): 1’55”Ciro Gomes (PDT): 38”Guilherme Boulos (Psol): 13”Geraldo Alckmin (PSDB): 5’29”Vera Lúcia (PSTU): 14”
Ao cargo de deputado federal:
CONTAGEM POR PARTIDO
MDB
Homens (2): 17’’
Mulheres (2): 18’’
Tempo total: 35’’
PDT
Homens (5): 31’’
Mulheres (3): 10”
Tempo total: 41’’
PRB
Homens (3): 23”
Mulheres (1): 3’’
Tempo total: 26’’
PV
Homens (2): 9”
Mulheres (1): 14’’
Tempo total: 23’’
PSOL
Homens (1): 3’’
Mulheres (2): 6”
Tempo total: 9’’
PTB
Homens (3): 8”
Mulheres (2): 17’’
Tempo total: 25’’
PSC
Homens (0): 0
Mulheres (1): 3’’
Tempo total: 3’’
PMN:
Homens (1): 3’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 3’’
Patriota
Homens (1): 7’’
Mulheres: 0
Tempo total: 7”
PSDB
Homens (6): 1”
Mulheres (4): 37’’
Tempo total: 1’37”
PSD
Homens (2): 23’’
Mulheres (1): 8’’
Tempo total: 31’’
PP
Homens (1): 11’’
Mulheres (1): 12’’
Tempo total: 23”
DEM
Homens (3): 28’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 28”
PPS
Homens (1): 12’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 12’’
PT
Homens (11): 1’19’’
Mulheres (5): 35’’
Tempo total: 1’54’’
PSB
Homens (1): 14’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 14”
PR
Homens (1): 7’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 7’’
PCdoB
Homens (1) : 21’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 21”
PROS
Homens (1): 16’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 16”
Podemos
Homens (1): 4’’
Mulheres (1): 5’’
Tempo total: 9’’
PSTU
Homens (1): 3’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 3’’
CONTAGEM POR COLIGAÇÃO
Coligação Minas por Todos (MDB, PDT, PRB, PV)
Homens (12): 1’20’’
Mulheres (7): 45’’
Tempo total: 2’05”
Coligação Unidos por Minas (PTB, PMN, PSC)
Homens (4): 11’’
Mulheres (3): 20’’
Tempo total: 31’’
Coligação Renovação (Patriota, PTC, PMB)
Homens (1): 7’’
Mulheres (0): 0
Tempo total: 7’’
Coligação Reconstrução Já (DEM, PP, PPS, PSD, PSDB, Solidariedade)
Homens (13): 2’14’’
Mulheres (6): 57’’
Tempo total: 3’11’’
Força do eleitorado feminino não é absorvida pelos candidatos