Lula, Tiradentes e a Mostra
Um dia intenso. Mais um passo do Golpe. Mais um dia de Mostra
Por Rafael Mendonça
(Esta coluna é dedicada ao meu mestre da adolescência e de toda a vida, Mark E. Smith. Cabeça do The Fall, que me ensinou mais sobre caráter, o jeito certo de ver a vida e posições políticas que muito ‘professor’ aí)
Desde antes de saber que viria cobrir a Mostra de Cinema de Tiradentes, todo mundo já sabia do julgamento do Lula no dia de ontem. Ou a data da infâmia: 24 de janeiro de 2018. Infâmia? Sim. Em variados graus de vontade e esperança, todos sabíamos que o desfecho do julgamento no TRF4 seria a condenação.
Eu, aqui em Tiradentes, cobrindo uma das mais relevantes mostras/festivais de cinema do Brasil, em uma cidade que, sim, foi tomada por um certo elitismo, mas que ainda assim continua mais democrática do que muita cabeça de esquerda por aí.
Foi dessa forma que, durante o dia, a dúvida entre a vontade de esquecer, concentrar em cinema, concentrar no trabalho ou, pura e simplesmente, ir a um bar beber e olhar para a serra de São José até ela virar duas, encheu meu coração.
Acabei fazendo de tudo um pouco. Subi meu texto, dei uma nadada, vi filmes e bebi olhando para a serra.
Foi a forma que encontrei de fazer esse jogo, ao menos na minha vida, virar para 3×3.
O que me dói de verdade é a vitória da desfaçatez, enganação e do cara que se dá bem montado em cima das costas dos outros. Vivemos uma época na qual valores como exploração, subserviência e outras coisas terríveis estão em elevada importância.
O que é pior, exaltada por explorados. E isso me dói demais. E isso rasga meu coração.
Gente que aceita ver outro ser humano em pior condição e não se sensibilizar com isso. A tristeza de ver que, se conseguimos algo nos anos PT, esse algo está sendo dizimado sob aplausos de ignorantes servis.
Que dureza. Que coisa triste.
Mais a noite fui ver o filme “Arapyau”, que trata da luta dos Guaranis dos arredores da cidade de São Paulo. Um bom filme que mostra a luta inglória por terra, por pouca terra… E não sei se pelo acúmulo do dia, das coisas intensas e/ou pelo conjunto da obra, o filme me tocou profundamente. Chorei, mesmo lembrando que nos anos PT as coisas não tenham sido tão melhores assim. Mas ver o que o futuro nos guarda e ver aqueles indígenas em sua luta me fez ver a gente daqui a algum tempo. Tendo que partir para atitudes mais radicais para garantir coisas que a gente ainda nem imagina.
Estamos perto de ter que ir pra rua pela sobrevivência do SUS, da não entrega de água para estrangeiros, para que nossos filhos possam ter alguma liberdade e sabe-se mais o que.
Um cara no Facebook de O Beltrano nos xingou por estarmos cobrindo a mostra. Eu fiquei meio de cara, pois queria saber o que a cobertura de uma das mais importantes mostras do Brasil tem a ver com essa palhaçada toda. E ainda mais com o tanto de filme politizado passando por aqui. Onde negros, negras e mulheres estão com o protagonismo e eu só calado aprendendo.
Tem horas que a esquerda tem que tomar cuidado. Ela dá tanta volta para se justificar que acaba beijando a bunda do Bolsonaro.