A morte lenta da Unidade Ortopédica do Galba Velloso

Às pressas, Fhemig começar a transferir centenas de funcionários e pacientes da Unidade Ortopédica do Hospital Galba Velloso. Sind-Saúde entrou na Justiça contra a medida e diz que o fechamento parcial da unidade prejudicará outros hospitais


Por Lucas Simões

Sind-Saude/divulgação

Centenas de servidores da saúde que trabalham na Unidade Ortopédica do Hospital Galba Velloso estão sendo transferidos para outros hospitais de Belo Horizonte. As atividades da unidade já haviam sido drasticamente reduzidas desde o início de dezembro por falta de condições sanitárias básicas. Apesar das transferências, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), que administra os hospitais públicos do estado, ainda não elaborou um plano para realocar todos os atendimentos. O Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde) já recorreu da medida na Justiça.

Segundo a Fhemig, “ainda está em construção a determinação dos hospitais e unidades de saúde que irão receber os novos serviços da Unidade Ortopédica”. A Fundação justifica que a transferência recente de funcionários para outros hospitais visa suprir a demanda que a Unidade Ortopédica deixou de atender, de cerca de 300 cirurgias e 280 internações mensais. Desde 11 de dezembro, devido a uma série de ações na justiça contra as más condições sanitárias, a unidade de saúde cancelou a oferta desses serviços e funciona apenas como atendimento ambulatorial, realizando uma média de mil consultas por mês.

A presidenta do Sind-Saúde, Neuza Freitas, disse que a interrupção de cirurgias e internações aconteceu de forma drástica, sem aviso prévio das mudanças aos funcionários, o que prejudicou o atendimento aos pacientes. “Eles entregaram um comunicado na sexta-feira (15/12) informando que estavam transferindo pacientes e funcionários no mesmo dia. Foram transferidos leitos de internados que não poderiam sair ainda, foi uma confusão. Tudo muito às pressas. Alguns funcionários transferidos se recusam a deixar suas atividades na Unidade Ortopédica. E a Fhemig já ameaçou cortar o ponto dos que ficarem”, disse Neuza.

Sind-Saude/divulgação

O Sind-Saúde entrou com ação na Justiça para anular a transferência dos funcionários da Unidade Ortopédica e promete manter protestos. A ação será analisada pelo juiz auxiliar da 2ª Vara de Fazenda Pública, Elton Pupo Nogueira. Na tarde de segunda-feira (18/12), durante protesto no Galba Velloso, trabalhadores do Sind-Saúde chegaram a acionar a Polícia Militar (PM) para registrar um boletim de ocorrência e evitar que mais pacientes fossem transferidos. “Chamamos a PM para registrar tudo, mas não conseguimos evitar as transferências. Isso afeta a saúde das pessoas que estavam internadas aqui”, disse Neuza Freitas.

A assessoria da Fhemig confirmou apenas que parte dos profissionais da Unidade Ortopédica, entre médicos, psicólogos e auxiliares administrativos, foram transferidos para o Hospital João XXIII, onde irão realizar os mesmos serviços ofertados na Unidade Ortopédica. Apesar disso, um dia após entregar comunicado por escrito aos trabalhadores sobre as transferências, no sábado (16/12), o Executivo publicou no Diário Oficial uma lista de profissionais transferidos para unidades de saúde com abordagens distintas da ortopedia, além do João XXIII. Entre elas, o MG Transplantes, a Maternidade Odete Valadares, o Hospital Maria Amélia Lins e a Casa de Saúde Santa Izabel, entre outros.

“O problema é que a Unidade Ortopédica do Galba Velloso é referência em diversos tratamentos específicos e faz um trabalho que desafoga os leitos do João XXIII, o maior hospital de emergência do Estado. Essa realocação de funcionários para hospitais diversos e unidades de saúde sem especialidades da ortopedia vai sobrecarregar hospitais”, disse Neuza Freitas, do Sind-Saúde.

 

 

Sind-Saude/divulgação

A Unidade Ortopédica do Hospital Galba Velloso existe há 20 anos e foi criada principalmente para dar seguimento aos tratamentos da área de traumatologia do Hospital de Pronto Socorro João XXII. A Unidade é referência em cirurgias de ombro, pé, quadril e joelho, além de ser especializada na reconstituição de fraturas e cirurgias plásticas reparadoras de membros superiores e inferiores.

Em 2013, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) entrou com uma ação contra a Fhemig, denunciando as precárias condições do hospital, a partir de vistorias da Vigilância Sanitária. Na ação, a Fhemig alegou não ter condições financeiras para realizar adequações físicas na Unidade Ortopédica do Galba Velloso, orçada inicialmente em R$ 6 milhões, segundo o Sind-Saúde. A assessoria de imprensa da Fhemig contesta esse valor, alegando que todas as adequações “superam em muito essa estimativa”. Ainda assim, um edital do Governo de Minas para a reforma da unidade psiquiátrica, de 2015, estimou em R$ 2,8 milhões o valor máximo do projeto, segundo dados levantados pelo deputado Antonio Jorge (PPS), que trabalha pela continuidade da Unidade Ortopédica.

Em audiência pública realizada em 10 agosto deste ano, na Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, o presidente da Fhemig, Tarcísio Neiva, alegou que a Fundação tem uma despesa mensal de R$ 28 milhões, mas que tem recebido apenas R$ 18 milhões da Secretaria de Estado de Fazenda nos últimos meses, levando a um acúmulo de dívidas com fornecedores de R$ 184 milhões — uma vez que a Fundação não tem orçamento próprio e depende dos repasses do Governo do Estado. A Secretaria de Estado de Fazenda foi procurada para comentar a diminuição de repasses à Fhemig, mas esta não respondeu à reportagem.