Movimento dos Atingidos por Barragens fecha parceria com Cemig

Gestão compartilhada de usina solar na cidade de Grão Mogol beneficiará duas mil famílias com redução na conta de luz


Por Lucas Simões

Foto: Manoel Marques/imprensa-MG

Em iniciativa pioneira no país, o Governo de Minas Gerais anunciou nesta quinta-feira (08/03) uma parceria entre o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) para a gestão compartilhada de uma usina solar na cidade de Grão Mogol. A energia produzida beneficiará cerca de duas mil famílias do movimento social, a maior parte delas chefiadas por mulheres.

Com investimento previsto de R$ 24,4 milhões, o convênio prevê a construção da primeira usina solar fotovoltaica flutuante do Brasil, com capacidade de 1,2 MWp (Megawatt-pico). A estrutura será montada sobre as águas da represa da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) de Santa Marta, em Grão Mogol, na divisa entre as regiões Norte e Vale do Jequitinhonha. Na prática, o projeto funcionará da mesma forma que as usinas fotovoltaicas tradicionais, ou as placas instaladas em casas ou prédios, mas deverá ter uma eficiência maior na geração de energia, conforme explica Alexandre Heringer, presidente da Efficientia, subsidiária da Cemig, responsável pela implantação técnica.

“Uma das vantagens do sistema com placas de energia sob o espelho d’água é que evita a evaporação da água, que é uma perda grande das usinas. E também melhora a eficiência das placas, que se manterão frias por estarem em contato com a água, aumentando sua eficiência. A expectativa é que a gente consiga produzir mais energia do que produzimos com as placas convencionais”, explica Alexandre.

Toda a energia gerada pelo projeto será destinada a 1.250 famílias, que terão redução na tarifa energética, além de outras nove mil famílias beneficiadas indiretamente em pelo menos 21 municípios do Vale do Jequitinhonha, a exemplo das cidades de Capelinha e Minas Novas, além de Grão Mogol.

Foto: Manoel Marques/imprensa-MG

As famílias envolvidas no convênio participarão da montagem do sistema e aprenderão padrões técnicos da geração de energia. Para Aline Gomes Ruas Santos, da direção estadual do MAB e que acompanha o movimento junto às bacias do Jequitinhonha e do Alto Rio Pardo, o projeto vai trazer independência e conhecimento aos atingidos.

“O projeto proporcionará às famílias acesso a energia a baixo custo para que possam desenvolver suas produções. Outro ponto é que a gente trabalhará com pesquisadores populares. Os atingidos é que irão a campo fazer o trabalho, montar as placas, verificar a geração da energia, o consumo etc”, diz Aline.

O convênio, que também tem participação da PUC Minas, da Axxiom Soluções Tecnológicas e da Associação Estadual de Desenvolvimento Ambiental e Social (Aedas), terá duração de dois anos, sendo que o começo dos trabalhos, incluindo a compra de materiais e as próprias placas solares, começa no próximo mês.

“As famílias sentirão a diferença na conta de luz a partir do próximo ano. Esse projeto é pioneiro porque abre um leque de possibilidades, principalmente no que diz respeito à geração de energia de forma mais sustentável e autogerida por populações que necessitam. É uma aposta que poderá ser ampliada no Estado inteiro, com possibilidade de outras milhares de famílias produzirem e gerirem sua própria energia”, completa Alexandre Heringer, presidente da Efficientia.