O ano em que o mundo pegou fogo

Departamento de Flosofia da UFMG debate a memória dos 50 anos de 1968, os 50 anos do AI-5


Durante o final de novembro o Departamento de Filosofia da UFMG promoveu um debate sobre os 50 anos do nefasto AI-5. Colocamos no ar um texto da Pamilla e os vídeos produzidos. Mais do que nunca é necessário relembrar.

Por Pamilla Vilas Boas

 

Os Estados Unidos estavam mergulhados na guerra do Vietnã enquanto se revoltavam com o assassinato do líder  Martin Luther King Jr. A Europa vivenciava a força das revoltas estudantis e o Brasil experimentava o endurecimento do regime militar com a instituição do AI-5 que completa 50 anos no dia 13 de dezembro deste ano, o aumento da censura política e da repressão policial, com a consequente reação dos movimentos populares que reivindicavam mais democracia. Foi um período de ascensão de movimentos artísticos como a Tropicália, influenciados pelos grandes movimentos de maio de 1968. Desse modo, pode-se dizer que 1968 foi um ano que marcou a história mundial, definiu os rumos da política com a renovação das esquerdas e da cultura ao redor do globo. 

Foi com o objetivo de recordar a memória desse período tão marcante e ainda tão presente que o departamento de filosofia da UFMG realizou o evento: “Memórias 2 em 1: 25 anos do doutorado em Filosofia da UFMG/1968 ontem e hoje – Brasil, Europa, EUA”.

Um dos coordenadores do evento, Rodrigo Duarte, professor do Departamento de Filosofia da UFMG, explica que o objetivo foi celebrar a memória em duas dimensões: a primeira, de um ponto de vista micro, visa comemorar os 25 anos do início do doutorado em filosofia recuperando também um pouco da memória do departamento, que existe desde 1939. A proposta  também foi discutir a relação do departamento de filosofia com a cidade de Belo Horizonte e o processo de consolidação do curso de filosofia como um dos mais importantes do Brasil. E o segundo nível celebrar a memória num sentido mais amplo com a comemoração dos 50 anos de 1968, os acontecimentos históricos e impactos no Brasil, Europa e EUA.

“A proposta do evento é pensar também sobre os desdobramentos do ano de 1968, que foi muito importante na luta contra a ditadura no Brasil e movimentos de liberação em outras partes do mundo, num movimento de renovação do pensamento de esquerda como na Europa e nos EUA. O público pode esperar uma recolocação de temas relevantes, num momento político crucial para discutir algumas questões que são importantes hoje no Brasil”, explica Rodrigo Duarte.

A programação contou com nomes como o coordenador do início do doutorado, Ivan Domingues e com a professora Giorgia Cecchinato, do Departamento de Filosofia, co-organizadores do evento; a coordenadora atual da pós-graduação em filosofia, Patrícia Kauark; o autor da primeira tese de doutorado do departamento, José Luiz Furtado, professor da UFOP e o professor aposentado da UFMG Carlos Roberto Drawin. O evento teve também nomes internacionais como Jeremy Shapiro (EUA) e Luigi Caranti (Itália).

“A proposta do evento foi pensar também sobre os desdobramentos do ano de 1968, que foi muito importante na luta contra a ditadura no Brasil e movimentos de liberação em outras partes do mundo, num movimento de renovação do pensamento de esquerda como na Europa e nos EUA. O público pôde ouvir uma recolocação de temas relevantes, num momento político crucial para discutir algumas questões que são importantes hoje no Brasil”, explica Rodrigo Duarte.

No dia 13 de dezembro de 2018 completa-se 50 anos do Ato Institucional Nº5  – AI-5 – que revelou a face mais cruel e repressiva da Ditadura Militar no Brasil. 

O Ato Institucional nº5 decretava o recesso do Congresso Nacional; a possibilidade de intervenção nos estados e municípios; permissão para cassar mandatos parlamentares; suspender, por dez anos, os direitos políticos de qualquer cidadão; decretava o confisco de bens considerados ilícitos; e suspendia a garantia do habeas-corpus.

De acordo com o Programa de Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República cerca de 20 mil brasileiros foram submetidos a torturas e cerca de quatrocentos cidadãos foram mortos ou estão desaparecidos. Ocorreram milhares de prisões políticas não registradas, exílios e refugiados políticos.

Para Rodrigo Duarte é necessário debater esses momentos históricos para iluminar nossos projetos de futuro. “É preciso lembrar o ano de 1968 como uma forma de ressaltar a importância dos valores básicos da democracia”, afirma.