Pimentel ignora violência da PM

Em entrevista, governador ressaltou queda nos crimes violentos no Carnaval, mas não comentou carta pública dos blocos que denunciou truculência da polícia


Por Lucas Simões

Foto: Marcelo SantAna

Recém-chegado de Washington, onde fez palestra na George Washington University, o governador Fernando Pimentel (PT) parece não ter se inteirado completamente dos abusos ocorridos durante o Carnaval de Belo Horizonte. Depois de pipocarem relatos sobre violências da Polícia Militar, principalmente contra blocos periféricos, Pimentel participou de entrevista coletiva no Palácio da Liberdade, nesta quinta-feira (15/02), mas ignorou as denúncias de agressões, prisões, encerramento arbitrário de blocos e uso de força excessiva pela polícia durante a folia (leia a matéria com as denúncias aqui: https://goo.gl/yWyZm3).

Com uma presença de menos de 15 minutos diante da imprensa, Pimentel se ateve a ressaltar a queda de 31% nos crimes violentos no período da festa. “Nós fizemos um planejamento antecipado para o Carnaval. Num momento de tanta intranquilidade, num momento de tanto sofrimento, Minas Gerais mostrou que é possível ter um intervalo de alegria de maneira fraternal”, disse Pimentel.

O governador saiu de cena antes que pudesse ser questionado sobre a “Carta aberta à PMMG contra a repressão ao Carnaval de BH”, assinada por nada menos do que 61 blocos carnavalescos que denunciam dezenas de ações arbitrárias e truculentas da PM na folia (https://goo.gl/vkV3hG). O documento foi endereçado ao governador, ao comandante-geral da PMMG, Helbert Figueiró, e ao Secretário de Estado de Segurança Pública, Sérgio Barboza Menezes. Nenhum deles comentou a carta.

O major Flávio Santiago, chefe da imprensa da PMMG, disse que a corporação não foi notificada oficialmente sobre a carta e, por isso, não poderia comentar seu conteúdo. O major ainda ressaltou que “toda situação de uso de força é acompanhada por nossa Corregedoria”. Porém, não soube precisar se há alguma investigação em andamento sobre excessos e violências cometidos por policias militares.

Até então, Santiago sustentava a versão de que, em um universo de 1.000 eventos carnavalescos, apenas no cortejo do Filhos de Tcha Tcha, no Barreiro, houve necessidade do uso da força. Mas ontem, admitiu também que a PM precisou dispersar foliões na rua Guaicurus — anteriormente, em entrevista a O Beltrano, o major negou que a PM tenha atuado de forma violenta para o encerramento antecipado da festa no Palco Guaicurus, interrompida três horas antes do horário programado pela própria Belotur. Ainda assim, o major Santiago não explicou o motivo da interrupção da festa.

Ele se limitou a dizer que “a decisão acontece pelo que foi contratualizado, o que é contratualizado em reuniões pretéritas e envolve órgãos como Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Prefeitura”. Segundo versão da Belotur, a decisão de encerrar a festa na Guaicurus aconteceu “uma vez que os órgãos constataram uma escalada de ocorrências na região”, algo que a própria PM não confirmou.