O Brasil é possível

Iniciativa Congresso do Povo propõe a formação de comitês de discussão e proposições de mudanças para o país


Por Petra Fantini

Publicado em 22/05/2018

Frente Brasil Popular

Um projeto de Brasil está sendo montado a mãos coletivas pelos próprios cidadãos. A iniciativa, chamada Congresso do Povo, partiu da Frente Brasil Popular, movimento que nasceu da luta contra o golpe na ex-presidenta Dilma Rousseff e hoje procura evidenciar e combater os efeitos desse processo.

A Frente reúne quase 70 organizações da sociedade civil, além de políticos e intelectuais. Através da atuação desses agentes na base, o Congresso estimula a discussão política em pequenos grupos comunitários, como associações de bairro e igrejas, e o levantamento de propostas para um Brasil melhor.

Desta forma, são criados comitês em todas as regiões das cidades, que formarão o Congresso municipal e, então, os municípios de Minas Gerais se reunirão no Congresso estadual nos dias 9 e 10 de junho. Espera-se que pelo menos 5 mil pessoas participem dessa etapa, que será sucedida pelo evento nacional, ainda sem data definida.

Os comitês vão listar as demandas locais, municipais e nacionais e as apresentarão em cada um dos Congressos. A proposta final, elaborada após o encontro nacional, poderá ser consultada pelos candidatos das eleições deste ano. Taciana Dutra, da Frente Brasil Popular, estima que Minas Gerais já possui 59 comitês, com 209 municípios envolvidos.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a União Nacional por Moradia Popular, a Marcha Mundial das Mulheres e os sindicatos em geral são os principais movimentos do estado envolvidos com a iniciativa. A mobilização mineira tem sido destaque no cenário nacional, comemora a militante.

Na capital, o servidor público e militante Reginaldo Silva coordena o comitê do Barreiro ao lado de André Xavier, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) Barreiro, e Dilson José, do movimento de Fé e Política da Paróquia Cristo Redentor. A regional já era ativa politicamente, explica Reginaldo, por causa do ativismo cultural (http://www.obeltrano.com.br/portfolio/descentraliza-bh/); da Assembleia Popular do Barreiro, onde os problemas locais são discutidos; da luta pelo metrô, que já dura 30 anos; e pela moradia, nas ocupações Eliana Silva e Paulo Freire.

Congresso do Povo – MST Vitória

Assim, os movimentos que estavam à frente dessas pautas se reuniram para formar o comitê do Barreiro, levantando também questões regionais, como a falta de investimento em saúde pública, e nacionais, como a defesa da democracia e a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerado preso político. O primeiro encontro do grupo, realizado no mês passado, contou com a participação de 50 pessoas e agendou o Congresso do Povo do Barreiro para 2 de junho, de 9h às 12h, no salão da Paróquia Cristo Redentor. Do evento, espera-se tirar uma lista com os problemas das regionais do bairro e eleger os representantes para o Congresso estadual.

Segundo Reginaldo, “o Congresso do Povo vem num formato que aguça as pessoas, as bases, a participar, lutar pelos seus direitos, a conhecer de fato a realidade e tudo o que vem acontecendo”. Ele avalia que a conjuntura atual vem da falta de participação popular de fato. “O Brasil avançou muito na questão popular, mas não politizou o trabalho. E hoje nós colhemos um preço muito alto dessa não politização”, diz.

Taciana conta que a iniciativa tem conseguido reunir uma militância que não estava ativa. Além disso, o Congresso é também uma maneira de inserir pessoas não organizadas na política, prática que tem sido alvo de ódio pela população desiludida pelos parlamentares e governantes do Executivo.

Ao convidar a população para participar dos comitês, por exemplo, percebeu-se que o Congresso é visto com desconfiança por causa do ano eleitoral – muitos acham que se trata de campanha partidária. Para Reginaldo, essa descrença pelo debate público abre espaço para aqueles que “gostam de fazer a política do mal”, isto é, a política contra o povo. É preciso denunciar aqueles que trabalham contra o povo no Congresso Nacional e incentivar o surgimento de novos nomes que queiram transformar o espaço em que estão inseridos.

“A gente quer fazer essa discussão para que as pessoas possam, novamente, entender que é através da política que a gente consegue mudar toda uma situação, todo um processo no município, no estado, no país”, diz Reginaldo. Por causa desse distanciamento da população e a prática política, a maioria dos participantes do Congresso do Povo já era ligada a movimentos sociais, e a “grande massa”, como denomina o militante, ainda não foi alcançada.

“As pessoas infelizmente são muito acomodadas. Elas não participam de associação de bairro, de reuniões de condomínio, e depois querem que as coisas aconteçam”, lamenta Reginaldo. Para mudar esse cenário, os moradores do Barreiro estão sendo abordados nas ruas, através de panfletagens e discussões sobre o dia a dia de cada um. O transeuntes são questionados sobre sua satisfação com a saúde e segurança pública e o preço dos alimentos, gasolina, luz e água.

Se a abordagem tratar da pauta da prisão do Lula, explica o ativista, as pessoas passam a achar que se trata de uma reunião do PT; se a questão é o metrô, elas desanimam pois consideram que o tema não tem solução. Para ser do povo, o Congresso deve se tornar atrativo.